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Será aberta nesta quarta-feira (8) a Exposição sobre a vida de Gildo Macedo Lacerda. A exposição inicia no dia que o dirigente nacional da Ação Popular (AP), completaria 66 anos de idade. Gildo foi torturado e morto pela Ditadura Militar em outubro de 1973.
A mostra acontece na Casa de Cultura, sede da Fundação Cultural e traz fotos e documentos e outros objetos do homenageado.
A exposição foi idealizada pela presidente da Fundação Cultural de Uberaba, Sumayra Oliveira. “É preciso que cada cidade tenha acesso às informações sobre violações de Direitos Humanos ocorridas no último ciclo ditatorial, reconhecendo seus mortos políticos, criando assim status de cidadania. Para tanto é necessário contar o que pouco foi contado, o que não sabemos. Se não pesquisamos ou falamos, o problema se coloca em longo prazo para a memória, que é o da sua transmissão intacta até o dia em que elas possam aproveitar uma ocasião para invadir o espaço público e passar do não-dito. Se esta passagem não acontecer com um trabalho de organização, a memória pode cair no senso comum, renovando-se ante as novas gerações, perdendo depoimentos de histórias de vida fundamentais para sua reconstrução, e esse é o objetivo dessa exposição, falar e contar a história do morto político, Gildo Macedo Lacerda”, observa Sumayra Oliveira.
Para relembrar a vida de Gildo Lacerda, a Fundação Cultural organiza a exposição, contando com documentação emprestada pela família do estudante e militante político e por trabalhos realizados pelos pesquisadores do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba (Conphau). Um painel irá contar a linha do tempo de Gildo. A exposição sobre a vida de Gildo Macedo Lacerda será na Casa da Cultura – Fundação Cultural, com abertura no dia 8 às 19h e visitação de 8 de julho a 8 de agosto, das 8h às 18h.
Em Uberaba sua luta foi lembrada por estudantes da Universidade de Uberaba, e tem como entidade de representação o DCE Gildo Macedo Lacerda.
Sua esposa, Mariluce Moura, sua filha Tessa Macedo, o genro e três netos, que residem em São Paulo, confirmou presença na abertura da exposição, além da família residente em Uberaba.
Quem foi Gildo Macedo Lacerda – Gildo Macedo nasceu em Ituiutaba no dia 8 de julho de 1949, filho de Célia Garcia Macedo Lacerda e Agostinho Nunes Lacerda. Para oferecer melhor educação aos filhos, a família Macedo Lacerda se muda para Uberaba em 1963 e vai morar na praça Dr. Thomás Ulhôa, onde reside até os dias atuais. Seu Agostinho vende a fazenda em Ituiutaba e adquire outra no município de Veríssimo.
Gildo vai estudar no Colégio Triângulo, onde hoje é o Campus I da Uniube. Lá cursa a 7ª e 8ª séries do ensino fundamental, antigamente 3ª e 4ª séries do curso ginasial. Em 1965, transfere-se para o Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, onde ficaria por mais dois anos.
No José Ferreira, Gildo se dividia entre estudos, presidência do Grêmio Estudantil Machado de Assis, ativo participante do Núcleo Artístico de Teatro Amador (Nata), orador da Mocidade Espírita Batuíra e apresentador de programas radiofônicos ligado ao espiritismo. Isso sem falar das leituras dos clássicos da esquerda revolucionária, tais como Marx e Althusser, e da participação no movimento estudantil, quando foi orador da União Estudantil Uberabense (UEU) e do Partido Unificador Estudantil.
Gildo também realizou várias reuniões em casa, onde discutia com companheiros, entre outras coisas, política local e nacional, teatro e a participam dos estudantes no movimento estudantil. Nessas reuniões uma sigla se torna comum: AP, ou seja, Ação Popular. Pode-se afirmar que Gildo, nessa época, já teria tomado contato com o programa básico da organização e a ela teria se aliado. Quando estudou no “Zezão”, Gildo assume seu comando no Triângulo Mineiro, até sua ida para Belo Horizonte.
Militância – No final de 1966, Gildo, com 17 anos, muda-se para Belo Horizonte, onde faz o 3º Científico integrado ao pré-vestibular e em 1968, entra para a Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade Federal de Minas Gerais. Devido a suas ideias, logo se torna uma referência no movimento estudantil e estreita laços com José Carlos Novaes da Mata Machado, então estudante de Direito na mesma universidade e com o militante José Matheus Pinto Filho. Os três passam boa parte de 1968 se revezando entre os estudos e as viagens a serviço do movimento estudantil e da AP. 1968 seria também seria o ano da primeira prisão de Gildo.
Devido à intensa militância, foi excluído da universidade com base no Decreto-Lei 477, editado em fevereiro de 1969, pelo General Costa e Silva. Mudou-se para São Paulo onde continuou nas atividades da Ação Popular, na clandestinidade. Em seguida para o Rio de Janeiro. As perseguições tornaram-se mais intensas era preciso fugir frequentemente.
Em 1972, Gildo, já como dirigente nacional da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), foi deslocado para Salvador, BA, "onde dirigiu a implantação do trabalho camponês da organização no Nordeste". Na cidade baiana, utilizava o nome de Cássio Oliveira Alves, sob o qual vivia e trabalhava. Conheceu a jornalista baiana e também militante da AP Mariluce Moura, com quem se cassou. Com ela teve uma filha, batizada com o nome de Tessa e que nasceu sete meses após a morte do pai.
Com medo de que sua família em Uberaba fosse molestada pelos agentes da repressão, Gildo enviava suas cartas para um amigo do pai em Veríssimo e em uma dessas cartas, ele manifestava a tristeza por não receber notícias da família e a saudade que sentia de todos. Incomodava-lhe também o fato de não poder apresentar sua companheira, Mariluce, a seus familiares. Porém, no começo de outubro de 1973 foi até o sítio da família, em Veríssimo. Nesse tempo, Mariluce já suspeitava estar grávida.
Prisão – Gildo e Mariluce foram presos no dia 22 de outubro de 1973, logo que regressaram para Salvador. Ele, por volta de meio-dia, ao sair de casa. Ela, uma hora depois, em frente ao Elevador Lacerda, importante ponto turístico da capital baiana. Foram levados, junto com outros presos, para a Superintendência da Polícia Federal da capital baiana. Mariluce estava grávida de 2 meses, confirmando suas suspeitas. À noite, ela e Gildo foram separados e cada um foi para uma sala. Nunca mais se veriam.
No dia seguinte, 23, Mariluce foi transferida para o quartel do Forte de São Pedro. Gildo, juntamente com Oldack Miranda, jornalista de Salvador, foi levado ao Quartel do Barbalho. Gildo é, posteriormente, transferido para o DOI-CODI do Recife, onde foi violentamente torturado. Por ser dirigente nacional da AP, seus algozes, usando as mais cruéis formas de tortura, tentaram arrancar dele todas as informações possíveis. Como Gildo nada dizia, foi brutalmente assassinado no dia 28. Neste mesmo dia, Mariluce recebe a notícia de que Gildo fora levado para uma longa viagem.
No dia 1º de novembro, um oficial dizendo-se capelão, conta-lhe que Gildo estava morto desde 28 de outubro. Para confirmar a história, apresentava-lhe um recorte de jornal que trazia a versão oficial de sua morte.
Os jornais do dia 31 de outubro de 1973 noticiaram um tiroteio que teria ocorrido três dias antes, em Recife, na Avenida Caxangá, onde morreram Gildo e Mata Machado. A nota oficial dos órgãos de segurança informava que, presos anteriormente, ambos haviam confessado ter um encontro com “um subversivo de codinome Antônio”no dia 28. Nesse encontro, segundo a versão oficial, Antônio abriu fogo contra os próprios companheiros ao perceber o cerco, chamando-os de traidores. O objetivo da nota era encobrir as mortes sob tortura de Gildo e Mata Machado, além do desaparecimento de Paulo Stuart Wright, referido como Antônio, que tinha sido preso pelo DOI-CODI de São Paulo no mês anterior. Mais uma vez se repetia o mesmo roteiro: autoridades do regime escamoteavam a verdade e lançavam a infâmia de que seriam delatores ou assassinos os militantes que morreram exatamente por se negarem a fornecer as informações que seus torturadores pretendiam extrair.
Farsa – Os companheiros de Gildo sabiam que era uma farsa, mas a versão oficial foi derrubada oficialmente em 1992, quando o cunhado de Mata Machado e ex-membro da AP Gilberto Prata Soares decidiu reconhecer publicamente sua infiltração policial na AP, prestando depoimento na Câmara dos Deputados. Afirmou nessa oportunidade: “Saiu nos jornais que o José Carlos e o Gildo Lacerda tinham se matado num tiroteio no Recife, numa cobertura de ponto. Isso destoava completamente do que eu realmente sabia que tinha acontecido. (...)”.
Gildo e Mata Machado foram enterrados como indigentes num caixão de madeira sem tampa, com um fundo pouco espesso. A família Mata Machado conseguiu resgatar o corpo algumas semanas depois, mas a de Gildo não. Seu corpo jamais foi devolvido à família.
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