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A exposição “Sinta Congada e Moçambique”, que será inaugurada pela Fundação Cultural na próxima quarta-feira (30) às 20h, no Memorial Chico Xavier, fechará o calendário oficial das comemorações culturais do Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. O espaço fica na av. João XXIII, 2.011, Parque das Américas, e está aberto para visitação gratuita de terça a domingo, das 13h às 18h.
A instalação retrata a expressão cultural e inova com a experiência sensorial que reúne vídeo, som, Congada e Moçambique a partir de imagens documentadas pela fotógrafa Ruth Gobbo. Na Galeria de Exposições temporárias, cenografia e efeitos sonoros vão criar ambiente de imersão, como se o visitante estivesse participado do movimento popular – documentados pela artista em 2015 e 2016. “A experiência revela à alma a noção do ritmo, aguça o comum acordo dos sentidos - audição, tato e visão, segundo a fotógrafa.
“Gosto de instalações para fotografia documental. Por mais que seja um registro, tem que ir além, mostrar o sentimento do autor ao fazer a captura. Cada foto é uma experiência única. O tema traz o colorido da fé celebrada em canto e dança. Por isso, aguçar os dois sentidos - tato e audição, para depois revelar a visão. Inicialmente, espero que seja uma experiência de sensibilidade ao espectador, para que possa compreender, ao final, o chamado ao respeito e cuidado da cultura popular”, explica Ruth Gobbo.
As imagens serão exibidas de forma aleatória, independentes de sequência temporal e dispostas em labirinto que darão a dimensão de estar nos ternos de Congada e Moçambique. Closes em rostos dialogarão com os visitantes, ressaltando a escala do som e instigando a reação de cada um que passa pela instalação.
Fotógrafa e jornalista, Ruth Gobbo é mineira natural de Sacramento. Desde muito cedo esteve ligada as áreas artísticas – dança, teatro, pintura e música, mas foi na fotografia que encontrou sua forma de expressão onde imprimiu a fusão das vivências artísticas. O fascínio pela cultura afro a acompanha desde sempre.
Seus acervos contam com imagens da América do Sul/ Norte e continente Africano, com destaque para o líder Nelson Mandela, com respectivas publicações, incluindo projeto BrazillianEyes, em Miami, Fl/ EUA. Há três anos, a fotógrafa assentou morada em Uberaba enriquecendo o olhar fotográfico da cidade, através da Fundação Cultural e serviços particulares prestados para Uberaba e região pelo Ruth Gobbo Studio Photo.
A congada é um evento que faz parte do folclore brasileiro. Trata-se de um desfile ou procissão que reúne elementos das tradições tribais de Angola e do Congo, com influências ibéricas, no que se refere à religiosidade. Esse fenômeno cultural é conhecido como sincretismo religioso: entidades dos cultos africanos eram identificadas aos santos do catolicismo. Assim, a Igreja, as autoridades e os senhores de engenho em geral aceitavam ou prestigiavam a solenidade. Em sua essência, é animada por danças, cantos e música, e a procissão acabava numa igreja (em geral, as de irmandades de negros, como Nossa Senhora do Rosário) onde, com a presença de uma corte e seus vassalos, acontecia a cerimônia de coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga de Angola - uma personagem da história africana, a Rainha NjingaNbandi, do século 17. Esses autos, contudo, não existiram no território africano. Uberaba mantém a tradição com procissões em mar de gente divididas em vários ternos.
Padroeiros
As congadas atuais são originárias dessas coroações e ainda estão presentes em diversos estados de todo o Brasil. Realizadas de maneiras diversas e mescladas a outras festas, elas basicamente são compostas de desfiles teatrais, ao som de vários ritmos: embaixadas, desafios, repentes e maracatus. Têm como padroeiras Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia.
Por isso, geralmente se apresentam nas festas desses santos ou ainda no mês de maio. Em Minas Gerais, realizam-se no mês de outubro, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Seus participantes vestem-se de branco, com um saiote de fitas coloridas e o rosário de lágrimas a tiracolo e dançam ao ritmo das caixas e dos chocalhos. Tanto em Minas como no Rio Grande do Sul, a Rainha Ginga, que vem de descendência familiar e hereditária, desfila em procissão.
Nobreza negra
Os congos formam dois grupos: do Rei Congo e do embaixador da Rainha Ginga, os quais, por meio de diálogos, realizam as embaixadas. Figuram príncipes, ministros, o general da rainha e os figurantes com seus adornos multicoloridos que dançam e reproduzem o choque das armas, conhecido como dança das espadas. As melodias são executadas por viola, cavaquinho, violão, reco-reco, pandeiro, bumbos, triângulo e sanfona.
Os temas teatrais do evento são a coroação dos reis de Congo, os préstitos e embaixadas, reminiscências de danças guerreiras, representativas de lutas, como a da Rainha de Angola, defensora da autonomia do seu reinado contra os portugueses. Essa personagem rivaliza constantemente com os chefes das tribos vizinhas, inclusive com o rei de Cariongo (Luanda).
Nossa Senhora do Rosário
Em Uberaba, a coroação dos reis do congo já era realizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário (São Domingos), desde o início do século XX. Em certas ocasiões, a festa alcançava esplendor pelo empréstimo de joias e adereços, cedidos pelas senhoras e senhores do engenho. Reunidos, os escravos e mestiços iam buscar o régio casal, levando-os à igreja onde eram coroados pelo vigário.
O cortejo executava coreografias, jogos de agilidade e de simulação guerreira, como a dança de espadas. Depois da coroação havia uma festa com baile, comidas e bebidas. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário ajudavam em todo o processo. Por vezes, a imagem da santa era pintada de preto.
Luiza Carvalho – Jornalista
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