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Fundação Cultural

25/10/2017 - Chá “MAS” Prosa convida para abertura de exposição da renomada ceramista Lusa Andrade

A Fundação Cultural de Uberaba, por meio do Museu de Arte Sacra (MAS), convida o público para o lançamento da exposição em homenagem à renomada ceramista Lusa Andrade. O Chá "MAS" Prosa será nesta sexta-feira (27), às 16h, na Igreja Santa Rita, onde fica o Museu. A exposição ficará até o dia 09/12 e é aberta ao público.

O artista plástico, Hélio Siqueira, é coordenador do MAS e foi aluno de Dona Lusa durante, aproximadamente, cinco anos. "Eu não era aluno da turma normal, ia todos os sábados", conta Hélio. Para ele, Dona Lusa é uma exímia artista que trabalhava processo de vitrificação da cerâmica. "Ela tem um significado, é uma das pessoas mais importantes do Brasil. Ela escreveu um livro chamado 'Barracão de Barro', contendo técnicas de cerâmica, composição de barro, composição de cada pó, a temperatura do forno, e esse livro é usado até hoje nos cursos", declara o organizador da exposição.

O MAS fica na Praça Manoel Terra, no bairro Estados Unidos, e fica aberto para visitação de segunda a sexta-feira, das 12h às 17h30 e aos sábados das 8h às 11h30.

Dona Lusa

Lusa Almeida Soares de Andrade começou a trabalhar com cerâmica em 1974 e, em 1975, montou a escola "Barracão de Barro", no fundo de sua casa. Até a década de 90 manteve a escola e fez congressos.

Dona Lusa conta que mexe com barro desde criança, porque ela morava na fazenda e lá tinha um riacho. Ela pegava as argilas coloridas por achá-las muito bonitas. "Aos cinco anos eu desenhava no papel e pregava nos espinhos das laranjeiras. Eu adoro mexer com barro", declara a ceramista.

Quando questionada sobre a sua peça mais querida, a peça coringa, ela fala que é um cinzeiro raku (técnica japonesa de cerâmica). "O raku a gente coloca no forno, tira a 900 graus, joga dentro do balde de serragem e depois na água. A serragem é para mudar o óxido para o metal", explica Dona Lusa em sua sala, decorada por quadros e peças de barro e cerâmica. Todos produzidos por ela. "Eu sou do barro", fala Dona Lusa, sorrindo.

O ponto alto de sua trajetória profissional, ela considera que tenham sido os congressos ministrados por ela. "Eu fiz 12 congressos nacionais e vinha gente do Brasil todo prestigiar. No último congresso vieram 300 pessoas". Os congressos foram realizados em Uberaba e contaram com o auxílio de duas fábricas de tintas de São Paulo, que mandavam as pastas utilizadas pelos alunos e, também, os diretores das fábricas. "Fazer sozinha seria impossível!" Eram três dias de trabalho, que tinha o encerramento com uma boa galinhada na Casa do Folclore.

Os participantes dos congressos sempre voltavam. O aluno que não viesse em algum ano, Dona Lusa mandava um cartão com a ilustração de um olho e uma lágrima e essa pessoa vinha no ano seguinte, sem falta.

Apesar de ter encerrado suas atividades com a cerâmica, Dona Lusa ainda é muito ativa com as pinturas em tela. "Eu encerrei as atividades com a cerâmica porque o trabalho de amassar o barro é bem pesado. Mas é o que eu gosto!"  Para passar o tempo, a ceramista tem feito cartões comemorativos para presentear os amigos nas datas especiais e participa, também, uma vez por semana, de um grupo de bordado, fazendo fuxico.

O início

Em 1975, quando o barracão foi inaugurado no fundo de sua casa,

Existia na entrada um pote que permanece no local até hoje, chamado "Pote dos Problemas". Todas as pessoas que passavam pelo pote jogavam os problemas dentro dele, porque os problemas não passavam de lá e não entravam no Barracão. Nenhum tipo de assunto desagradável era aceito dentro do Barracão. O que acontecia de desagradável na cidade não era falado. Então só tinham coisas boas. "Era uma alegria!”, declara Dona Lusa.

A ceramista conta que uma vez passaram duas mocinhas recém-casadas. A da frente parou e jogou os problemas. Quando a de trás foi jogar os problemas, a da frente falou “Entupiu o pote!”. Dona Lusa conta que achou a cena uma graça e disse que elas poderiam ficar tranquilas, já foi tudo embora. “Cada grupo vinha uma vez por semana. Eu sinto muita saudade, chego a sonhar!”, fala a ceramista.

A cidade toda era impactada com os congressos ministrados por Dona Lusa, porque eles eram realizados em janeiro, mês mais parado em uma cidade universitária. “Eu sempre arranjava lugares para as pessoas ficarem juntas, eu falava para trazer roupa de cama. Quando elas chegavam, os nomes já estavam pendurados nas portas dos quartos, com as bolinhas de barro que eu fazia para pendurar nas portas”, conta ela.

Depois de algum tempo, os participantes passaram a se hospedar no Grande Hotel e as aulas eram ministradas na Universidade de Uberaba. "O Marcelo me cedia tudo, inclusive os aparelhos para registrar os eventos". Dona Lusa sempre ministrou suas aulas sozinha. Quando sugeriu colocar um assistente, foi desencorajada. A ceramista ri ao falar que se adoecesse, não sabe como seria.

Ela fez estágio nas fábricas que a auxiliavam nos congressos e foi nesses estágios que ela viu como preparar as tintas. As fábricas tinham fornos transparentes, o que possibilitava a visão das pessoas no momento da transformação das cores.

Apesar de iniciado o curso de Assistência Social na universidade Católica do Rio de Janeiro, Dona Lusa voltou para Uberaba quando o pai faleceu. Fez cursos, em São Paulo, com Jorge Fernandez Shiti, ceramista e professor argentino. “Quando o professor disse que a queima do fogo era a 900°C no forno, eu achei bom demais, porque eu já sabia qual era a temperatura ideal. Eu já tinha feito muito teste no meu forno até descobrir a temperatura”, conta Dona Lusa.

Ao final dos cursos, o professor sempre fazia perguntas sobre o assunto aos alunos. Para Dona Lusa o professor disse "Não farei perguntas à senhora, porque a senhora já sabe tudo”. A ceramista conta que, nesse momento,ela se sentiu importante e ninguém a segurou mais.“Eu aprendi tudo testando, com muita experiência. Inclusive quando uma aluna me perguntou se eu nunca estraguei uma peça, disse a ela que o córrego ainda era aberto e foi tudo para lá! Como assim não estraguei nenhuma peça? Você nunca sabe o que tem dentro do forno, é sempre uma surpresa! Toda manhã eu ia lá ver o que tinha resultado. É como se nascesse uma criança”, declara a ceramista.

Dona Lusa tinha três fornos: o primeiro foi Pedrão. Em seguida, ela adquiriu o “Maria Machadão”. O terceiro era grande, por isso o nome “João Grande”, que tinha a capacidade de queimar uma pia. A ceramista usava os três fornos todos os dias. Ligava durante o dia, desligava a noite para deixar esfriar e toda manhã era aquela alegria ao abrir. Dona Lusa tem quatro filhos. Três homens e uma mulher. Hoje ela ainda cuida da fazenda do pai, plantando soja.

Sobre parceiros de cerâmica em Uberaba, Dona Lusa conta que foi a primeira e que ensinou muita gente que abriu escola. Quando ela parou, os demais também pararam. “Eu achei que quando eu parasse, os que eu ensinei iriam continuar. Eu fiquei muito triste com isso!”, lamenta Dona Lusa.

“A pintura da cerâmica não pode ser pincelada. Você tem que pingar as cores. É muito bom para a cabeça isso, é maravilhoso! Você traz devagarzinho e pinga as cores”, conta Dona Lusa, fazendo gestos como se estivesse pintando.

 

Estagiária Jorn. Ana Rizieri

Comunicação PMU/FCU

 
 
 

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